Phra Paisal Visalo: o perfil de um monge ativista das florestas tailandesas

Perfil pessoal

Nome: Phra Paisal Visalo 
Nascimento: 10 de maio de 1957 
Educação: Universidade Thammasat, curso de História
Ocupação: abade do Mosteiro de Floresta Sukato (Wat Pa Sukato). Ordenação: 5 de Fevereiro de 1983.

Membro do Comitê do Grupo Coordenador de Religião na Sociedade; Editor do boletim ambiental “Anurak”; Editor do boletim antinuclear “Jabta Nuclear”;
Prêmios: Prêmio Pridi Banomyong 2001 por seu excelente trabalho em ativismo pela paz. O equilíbrio da paixão de Phra Paisal tanto pelo intelecto quanto pelo ativismo define sua vida antes e depois de sua iniciação no monasticismo.

Introdução

Paisal Wongworawsit (ไพศาล วงศ์วรวิสิทธิ์), conhecido como Phra Paisal Visalo (pronuncia-se Prá Paisám Wisalô) nasceu em Bangcoc em 10 de Maio de 1957. Ele terminou o Ensino Médio no Assumption College, graduando-se em História na Faculdade de Artes da Universidade Thammasat. 


Phra Paisal Visalo interessou-se pela política tailandesa desde a juventude. Quando era estudante do ensino médio, ele se juntou à manifestação política que levou à Revolução de 14 de outubro de 1973. Mais tarde, no massacre de 6 de outubro de 1976, Phra Paisal participou da greve de fome como ferramenta política de resistência não-violenta para protestar contra o governo na época. Como resultado, ele foi preso na Universidade Thammasat pela polícia e enviado para a prisão, onde ficou por três dias. Depois de ser libertado da prisão, Phra Paisal trabalhou, entre 1976 e 1983, no Grupo Coordenador de Religiosos na Sociedade. Suas ações centravam-se sobretudo em questões relativas aos direitos humanos, providenciando assistência a presos políticos. Seu trabalho teve grande impacto e sucesso reconhecido em todo o mundo quando o governo anunciou a Lei da Anistia e libertou 3.000 acusados do massacre em 6 de outubro de 1976.

Depois de trabalhar como ativista por mais de 7 anos, ocupação que exercia desde o segundo ano na Universidade até sua graduação, Phra Paisal, no entanto, sofria de estresse mental. Consequentemente, ele desejou se retirar temporariamente do serviço social, ordenando-se monge por um limitado período de tempo. A intenção inicial era permanecer como monge por apenas três meses. Entretanto, depois de experimentar a vida monástica, parecia que sua prática no Dharma havia progredido e se desenvolvido distintamente e ele tinha profunda fé e crença no budismo. Phra Paisal decidiu não mais abandonar o manto e já conta com mais 35 anos de ordenação.

Phra Paisal Visalo foi ordenado em 1983 no Wat Thong Noppakun em Bangcoc. Ele aprendeu a meditação com Luang Por Tean Jittasupo no Wat Sanam Nai, antes de se mudar para o Wat Pa Sukato, Kangkro, Chaiyaphum. Lá Phra Paisal aprendeu Dharma e meditação com Luang Por Kam Kean Suwanno, que ele conheceu três anos antes como assistente social e deu assistência a Luang Por Kam Kean em seu projeto de desenvolvimento comunitário.

Atualmente, Phra Paisal é o abade do Wat Pa Sukato, mas ele fica principalmente no Wat Pa Mahawan (Phu Long) para ajudar a proteger e preservar as florestas. Ele é particularmente influenciado por dois outros monges tailandeses: Buddhadasa e Payutto. E procura manter vivas as contribuições desses eminentes professores do Dhamma.

As opiniões de um monge ativista

Poucos monges ousam falar contra a ditadura feudal do clero, que gera nepotismo e corrupção. Um número ainda menor deles entende os desafios modernos que o budismo tailandês está enfrentando e como lidar com eles.

Isso faz de Phra Paisal Visalo um caso à parte.

O monge, que nunca mede palavras para falar sobre o monasticismo em seu país, vem conduzindo há anos um projeto de pesquisa abrangente para oferecer medidas concretas para reformar o sistema clerical.

Seu projeto de pesquisa de reforma da Sangha envolve muitos estudiosos budistas progressistas que acreditam que a inércia e a insularidade da Sangha estão prejudicando gravemente o budismo tailandês. Os tópicos de pesquisa incluem o sistema de recrutamento, educação dos monges, finanças dos templos, ordenação de mulheres e o budismo dos leigos.

Enquanto a maioria dos líderes estudantis de sua juventude discutiam o marxismo e a revolução, Paisal trabalhou com um pequeno grupo de amigos para defender a não-violência.

Quando as ideologias políticas de direita e esquerda se chocaram em 1976, culminando em um massacre de estudantes na Universidade Thammasat perpetrado por forças nacionalistas e monarquistas de extrema direita, muitos estudantes fugiram para a selva para pegar em armas ao lado do Partido Comunista da Tailândia.

Paisal foi detido e brevemente preso antes de ser libertado sob fiança. Embora ameaçado pelo governo de extrema direita, ele se recusou a se juntar ao levante armado.

“Acredito na não-violência. Não acredito nas chamadas guerras populares”, afirmou.

Paisal e um pequeno grupo de ativistas da paz formaram o Grupo Coordenador de Religião na Sociedade para trabalhar em questões de direitos humanos e não-violência. Era a única organização não governamental politicamente ativa em Bangcoc naquela época.

As coisas estavam difíceis. Paisal mergulhou num arriscado ativismo político e nos textos acadêmicos, tanto que quase se esgotou tanto física quanto mentalmente.

Quando o tenso clima político começou a diminuir em 1979, com o governo concedendo anistia aos estudantes combatentes, Paisal entrou para o monastério em 1983, para “recarregar as baterias”.

“Eu estava exausto do trabalho. Estava estressado”, lembra ele. “Pensei que precisava de apenas três meses de meditar para me revitalizar.”

Mas ele nunca mais deixaria o manto de monge.

“Quanto mais pratico o dhamma, mais forte é a minha fé”, explica ele, “e mais percebo o valor de uma vida espiritual”.

Agora com muitos anos como monge, Paisal se tornou abade do Wat Pah Sukato, localizado atrás das montanhas na província de Chaiyaphum, nordeste da Tailândia. Sua distância de Bangcoc, no entanto, não conseguiu silenciar seu ativismo.

O monge ainda é o ponto focal de várias organizações não-governamentais que defendem o ativismo budista, a não-violência e o diálogo inter-religioso.

Suas organizações também criticam a cultura do consumismo e as políticas de desenvolvimento governamentais “dirigidas pela ganância” que estariam destruindo a natureza, os princípios morais e as comunidades.

Ele também é uma força motriz por trás do movimento monástico Sekhiyadham que se utiliza de ensinamentos budistas com o intuito de organizar os aldeões e desenvolver o empoderamento da comunidade local.

Um dos objetivos do grupo é provar que modelos alternativos de desenvolvimento baseados em valores religiosos de satisfação e simplicidade não são apenas possíveis, mas também cruciais para o sustento das futuras gerações.

Ele também está em campanha para sensibilizar o público a ver o ato de fazer mérito como uma maneira de ajudar aos outros na sociedade, em vez de um investimento pessoal para uma vida futura no paraíso ou melhor nascimento.

Um escritor prolífico, Phra Paisal é conhecido por seus trabalhos que lançam luzes sobre os problemas do budismo tailandês e os desafios que a religião enfrenta na era da informação.

“O budismo tailandês tem três problemas principais”, diz ele. “Os problemas envolvem os ensinamentos, o monasticismo e os próprios budistas leigos”.

O budismo tailandês, diz ele, perdeu seus aspectos místicos e sociais. “Estamos interessados ​​apenas em nossas necessidades, não na sociedade”.

Enquanto isso, o monasticismo está cheio de fraquezas. “Os monges geralmente são fracos intelectual, moral e espiritualmente”, acusou, culpando o sistema educacional e estilo de vida autoritários dos monges por essa situação.

Simultaneamente, ele diz, o nepotismo é abundante e a corrupção no fechado e autocrático sistema de governo da Sangha encoraja os maus monges a abusarem de suas posições, aumentando constantemente a cadeia de poder do Monasticismo oficial através de dinheiro e favores.

A sociedade budista leiga não se sai muito melhor, diz ele.

Sem conhecer a verdadeira essência do budismo, os budistas leigos acabam mimando monges com bens materiais, acreditando que isso comprará mérito, bem-estar, sucesso e uma doce vida futura no paraíso ou um bom renascimento.

Ele também observa que a proliferação de movimentos budistas leigos, que tendem a eclipsar o papel dos monges, também está cheio de armadilhas.

Governados pela cultura do consumo, os novos grupos religiosos costumam ser voltados para atender às necessidades individualistas e materialistas de seus seguidores, observa ele.

Embora sua pesquisa sobre a reforma da Sangha possa fornecer algumas respostas sobre como monges e devotos podem se encontrar no meio do caminho através de vários freios e contrapesos, Visalo tem dúvidas que alguma mudança venha dos monges.

Ele afirma que a reforma clerical, aqui ou em outro lugar, mostra que a mudança quase sempre decorre de pressões externas, sejam movimentos alternativos das margens ou forças diretas dos centros seculares de poder.

Seja ele bem-sucedido em seus objetivos ou não, Phra Paisal vê seu dever e a missão da vida como quem fornece conhecimento para reforma da Sangha e proponente de maneiras de capacitar monges e a sociedade leiga contra os perigos de uma cultura de consumo.

“Não espero ver mudanças na minha vida”, diz ele, “mas devemos fazer o possível para injetar nova vida no budismo tailandês. Caso contrário, ele desaparecerá”.

Atualmente, os dois principais focos de trabalho de Visalo são dar assistência espiritual a pessoas que estão morrendo e proteger as florestas tailandesas da destruição. 

Textos de Visalo traduzidos pelo blog:

 

 

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